O que explica o fenômeno eleitoral Alexandre Kalil?

Com 60% das intenções de voto a três semanas do primeiro turno das eleições, o candidato do PSD à reeleição como prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, foi tema de reportagem publicada nesta segunda-feira (26) pela Folha de S. Paulo (disponível aqui para assinantes). No texto, o jornal paulista diz que, apesar de uma gestão sem grandes obras, uma posição que dribla a polarização e ações voltadas a classes populares parecem ter garantido ao prefeito o favoritismo e a larga vantagem apontada pelas pesquisas a um mês das eleições, segundo especialistas.

De acordo com levantamento do Ibope, realizado entre os dias 13 e 15 de outubro, 11% dos eleitores em BH se dizem muito satisfeitos com a vida que levam e 66%, satisfeitos. Kalil lidera as intenções de voto com 60%; seu adversário mais próximo tem 7%, segundo Datafolha dos dias 20 e 21. A pesquisa mostrou também que 70% aprovam o desempenho do prefeito em relação às ações de combate à pandemia do coronavírus.

Há quatro anos, o ex-presidente do Atlético Mineiro venceu em segundo turno a eleição para prefeito da capital mineira com 53% dos votos. Agora, com outros 14 candidatos no páreo, ele pode ter o fator reeleição a seu favor, uma tendência nas eleições mais recentes em BH. “Tem menos espaço para outros nomes aparecerem. A pergunta principal é: eu quero que esse gestor continue ou não? E é claro que a figura dele acaba virando central”, diz o professor do departamento de Ciências Políticas da UFMG e diretor da consultoria Quaest, Felipe Nunes.

Nunes aponta que, num momento de crise econômica, grandes obras não parecem ter sido vistas como prioridade pela maior parte dos eleitores. A troca da frota de ônibus e os movimentos de Kalil para segurar aumento das tarifas, aceno a classes mais pobres, mostram que o eleitorado focou em ações para manter a cidade funcionando.

Mesmo eleito na onda de outsiders da política, Kalil evitou surfar na polarização, explica a reportagem da Folha, segundo quem o perfil de alguém que parece falar o que pensa, com a cara séria mesmo no santinho da campanha, parece ter lhe garantido simpatia à esquerda e à direita.

Kalil consegue estabelecer um equilíbrio precário num conjunto de áreas, num país em que essas áreas deixaram de conversar na última década, avalia Leonardo Avritzer, professor de Ciência Política da UFMG. “Ele consegue juntar elementos da antipolítica, encarnada num perfil falastrão, com uma prática de administração quase estereótipo do político mineiro, de fazer grandes coalizões, entre espectros políticos muito diferentes”, afirma Cristiano Rodrigues, também da UFMG.

Apesar de eventos pontuais, como a discussão frente à greve de mais de 50 dias de professoras da educação infantil em 2018, Kalil não enfrentou oposição à sua gestão. Com os servidores públicos, sem atrasar ou parcelar salários, Kalil conseguiu manter uma relação, em geral, sem grandes atritos, segundo o presidente do Sindibel (sindicato que representa a maior parte do funcionalismo, incluindo a Guarda Municipal), Israel Arimar de Moura. “Ele foi bastante pragmático na gestão. A gente vê muita crise política, questões de costumes, ideologia, mas em Belo Horizonte o prefeito falou ‘vamos governar’ e foi mais pelo centro”, diz ele.

Kalil vê a liderança nas pesquisas como resultado do governo e diz que sua posição política não mudou nos últimos quatro anos. Questionado pela Folha sobre se acha que tem chances de ser reeleito já no primeiro turno, se esquivou. “Eu venho do futebol. Futebol tem dois tempos”.