Kassab aponta papel dos partidos frente à pandemia

Brasília - O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, assina portaria de desligamento da TV analógica no DF e em nove cidades do entorno (Wilson Dias/Agência Brasil)

Em entrevistas a veículos de comunicação no último fim de semana, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, destacou que o cenário atual vem provocando grandes transformações no mundo e no país, ressaltou o papel dos partidos políticos na contribuição com soluções e afirmou que gestores que tenham cometido erros na pandemia terão dificuldades nas próximas eleições. Ele cita a derrota de Donald Trump nos Estados Unidos como algo que pode se repetir no Brasil.

Ele participou na tarde de segunda-feira (5) do debate “Diálogos pelo Brasil”, organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, com presença também dos presidentes do MDB, Baleia Rossi, e do Psol, Juliano Medeiros. No foco do encontro virtual, a pandemia da covid, a crise econômica e as perspectivas para o país.

Nesse debate, Kassab lembrou que “os partidos têm uma importância significativa para que se achem soluções, seja nos parlamentos, seja nos demais espaços que participam”, afirmou. E citou que, entre outras mudanças, o mundo do trabalho tem se modificado significativamente, dada a restrição de circulação que a pandemia traz.

Em entrevista publicada pelo jornal O Globo no sábado (3), o presidente do PSD, ao falar sobre as ações do governo federal na pandemia, disse que “a situação é tão grave que nós temos que identificar os erros do passado, que foram muitos, mas não podemos ficar pisando em cima deles, criando atritos, divergências. Nós pagamos pelos erros do passado, é evidente. Poderíamos estar com uma campanha de vacinação muito mais intensa”.

Em sua opinião, os erros terão impacto nas próximas eleições. “Para a maior parte das pessoas que habitam o planeta, se você oferecer um carro ou uma vacina, elas preferem a vacina. Essa é a importância que tem para as pessoas o enfrentamento dessa pandemia. Acredito que, nas eleições, os que acertaram vão tirar proveito disso. Não tenho dúvida de que o presidente Trump, nos Estados Unidos, perdeu as eleições principalmente por conta de seu comportamento na pandemia. O eleitor deu o troco. Então, no Brasil, aqueles que erraram por convicção ou por vaidade vão ter dificuldades de conquistar o voto do eleitor”.

No debate promovido pelo Estadão, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia também destacou que o PSD deverá ter candidatura própria nas eleições de 2022, e elogiou a necessidade de manifestação em favor da democracia, ressaltando documento divulgado por lideranças políticas no último dia 31 de março, aniversário do golpe militar de 1964. “A sigla constrói discussões nesse sentido e chegará a nome até o próximo ano”.

Kassab reafirmou a importância da ciência e da medicina nas definições de combate à pandemia, quando questionado sobre funcionamento de templos religiosos e promoção de aglomerações durante cultos.

O presidente do partido também ressaltou o papel propositivo do PSD, não fazendo “oposição por oposição”, e pontuou erros do governo federal na gestão da pandemia, como a necessidade de campanhas de orientação e outros.

Defendeu ainda a importância de debate sobre programa de renda mínima universal ser levado adiante agora.

Entrevista a O Globo

Veja a seguir as respostas de Gilberto Kassab na entrevista à jornalista Natália Portinari, de O Globo.

A demissão de Ernesto Araújo da pasta das Relações Exteriores mostra uma nova sinalização do governo?

Não é possível que as pessoas não entendam que estamos num mundo globalizado. Onde as nações dependem cada vez mais umas das outras. A postura em relação às políticas dos ministérios estava tão equivocada que a primeira trombada foi na questão da vacina. E o chanceler Ernesto, falo de uma maneira respeitosa, estava na contramão. Entendo que sua substituição era mais do que necessária para que a gente possa restabelecer as corretas relações que precisamos ter com os países.

Uma candidatura forte de centro em 2022 é mais difícil com Lula elegível?

Hoje há números expressivos de uma pré-candidatura do Lula ou do Bolsonaro, mas têm rejeição alta. Entendo que existe espaço para uma candidatura de centro. Mas acredito que ainda não haja esse nome. Nós temos muito tempo ainda.

O PSD apoiou o governista Arthur Lira (PP-AL) na Câmara, mas se posiciona como independente. Como se equilibrar nisso?

São coisas diferentes. A relação com outros partidos dentro do Congresso não é a mesma lógica da relação do partido com o Executivo. O PSD é independente, dá aos parlamentares a independência para se posicionar em relação aos temas que estão apresentados.

Parlamentares do partido tem indicados no governo. Não é contraditório?

Todos os partidos, por conta da história de seus parlamentares, têm participação com indicações. O MDB parece que tem muitos cargos no governo, o DEM tem muitos cargos, o PSDB tem alguns cargos, o PL, o PP. Tem uma lógica. Os cargos existem, precisa ter governabilidade.

O PSD descarta fazer parte de uma coligação com Bolsonaro em 2022?

A palavra “descartar” não é adequada para não ser agressivo. O PSD vai ter candidatura própria. Eu acho um absurdo partidos não darem prioridade sempre à candidatura própria. Não tem sentido você existir para permanentemente fazer aliança. Para quê existir o partido, se você a todo momento vai se aliar a outro?

Quais nomes o partido tem para disputar a Presidência?

Nós tomamos uma decisão de só discutir essa questão a partir de janeiro de 2022. Mas no plano pessoal eu vejo bons quadros do partido. Citaria o governador Ratinho Júnior, do Paraná, o prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte, o senador Antonio Anastasia, de Minas Gerais, o senador Otto Alencar, da Bahia, o deputado federal André de Paula, de Pernambuco, e o deputado federal do Mato Grosso do Sul, Fábio Trad.

Vale a pena lançar um nome que não tenha viabilidade eleitoral?

Para ser sincero, essa união de partidos, lógico que é boa, mas geralmente não dá certo. É evidente que ninguém descarta poder estar todo mundo junto, mas cada partido vai ver aquilo que considera melhor para o Brasil.

O que o senhor acha do possível retorno das coligações proporcionais?

É impossível o Brasil ter governabilidade com um número tão grande de partidos como tem hoje. A reforma aprovada em 2017 é mais do que adequada para o país, com a proibição das coligações proporcionais.

Há de novo a proposta do “distritão” na Câmara, com a eleição dos mais votados, sem proporcionalidade. Qual é a sua visão?

É um absurdo, seria levar o país à ingovernabilidade, cada representante com compromissos apenas com uma instituição, sem compromissos partidários. Estou entre os que combatem o distritão e defendem o sistema proporcional.