O PSD terá candidatura própria nas eleições presidenciais de 2022 e tem excelentes nomes para apresentar ao eleitor. A afirmação é do presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, em entrevista ao jornalista Marcelo de Moraes, publicada na terça-feira (16) no jornal O Estado de S. Paulo. Segundo Kassab, o PSD pode apresentar nomes como os do senador Otto Alencar (BA), do senador Antonio Anastasia (MG), do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do governador do Paraná, Ratinho Júnior, do deputado André de Paula (PE) e do deputado Fábio Trad (MS), “para ficar nos principais”.
Veja aqui a íntegra da entrevista ao Estado de S. Paulo (para assinantes)
O presidente nacional opinou que será difícil para as forças de centro produzirem uma candidatura presidencial de consenso para 2022. “Eu não acredito em candidatura de proveta”, afirmou Kassab ao Estadão. “A candidatura da direita, do Bolsonaro, é natural. A candidatura do Lula é natural na esquerda. Os partidos que têm mais afinidade com o centro, cada um vai procurar o seu caminho. É evidente que, se puderem estar juntos no primeiro turno, pode ser positivo. Mas estar juntos artificialmente não leva a lugar nenhum”, disse ele.
Lembrando que o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações costuma ser consultado informalmente pelo presidente Bolsonaro, o jornalista Marcelo de Moraes destaca na abertura da entrevista que, para o ex-prefeito de São Paulo, as chances de o presidente se reeleger vão depender de que tipo de legado ele conseguirá deixar até o próximo ano. “As pessoas só estão preocupadas, hoje, com a pandemia. Se você perguntar para uma pessoa se ela quer a vacina ou um automóvel, ela quer a vacina”, disse.
Veja a seguir alguns trechos da entrevista:
Como o senhor analisa o novo cenário político depois que as acusações contra o ex-presidente Lula foram anuladas pelo ministro Edson Fachin e ele se tornou elegível?
A novidade em relação ao cenário é a consolidação com clareza da esquerda no Brasil, com a liderança do Lula. E em confronto com a direita, tendo como líder Bolsonaro. Então, o Brasil volta a ter uma direita com cara, discurso e líder. E uma esquerda com cara, discurso e líder. Agora, vamos ver, nessa rearrumação, como vai ficar a centro-direita, a centro-esquerda e o centro.
E o que o senhor acha que vai acontecer? Até porque o PSD, seu partido, se situa nesse miolo…
Nós já estamos vivendo o clima de um novo momento do Brasil, na política partidária, por conta da reforma que foi feita recentemente e que vai possibilitar a redução do número de partidos. Redução essa que vai dar ao eleitor mais clareza em relação a cada partido. E, onde você tinha quarenta partidos – que era essa a realidade brasileira até então –, nenhum conseguia ter uma cara, uma ideologia nítida para se apresentar perante a sociedade e o eleitor. Agora não. Com essa redução, cada partido pode ocupar um espaço. Vai começar a haver, muito possivelmente, a vinculação do cidadão, do eleitor, com o partido que ele entende que o representa. Antes era difícil para o cidadão encontrar um partido que o representasse porque os partidos eram uma salada. Nenhum partido podia ter uma posição muito clara, não conseguia. Porque onde tem quarenta, não tem nada. Agora não. Estamos caminhando para uma redução. Estamos no caminho certo. Nós vamos, efetivamente, ter a oportunidade de reconquistar a confiança do eleitor quanto à política brasileira, que está num profundo descrédito.
Qual sua avaliação sobre a possível candidatura de Lula, em 2022?
O ex-presidente Lula é uma figura de peso na política brasileira. Mas, como em qualquer país do mundo, uma ideologia de esquerda sempre tem uma rejeição maior do que a de centro. Em outros momentos, Lula teve a habilidade de construir alianças que levaram sua proposta um pouco para o centro. Ele, ao longo da vida, sempre teve muita habilidade. Vamos aguardar os próximos acontecimentos.
Com Lula situado bem claramente à esquerda, Bolsonaro bem claramente à direita, o senhor acredita que o centro consegue construir uma candidatura consensual?
Eu não acredito em candidatura de proveta. A candidatura da direita, do Bolsonaro, é natural. Ele é o candidato da direita. A candidatura do Lula é natural na esquerda. Os partidos que têm mais afinidade com o centro, cada um vai procurar o seu caminho. Naturalmente, podem se entender ou não. Caso não se entendam no primeiro turno, se entenderão no segundo. Eu acredito muito que cada partido tem de ter o seu caminho. É evidente que, se puder estar junto no primeiro turno, pode até ser positivo. Mas estar juntos artificialmente não leva a lugar nenhum.
O senhor acha que a tendência, então, é que haja mais uma candidatura nesse campo de centro? O PSD pretende ter candidato ao Planalto?
Eu não posso falar pelos outros partidos. Nem pelo PSD eu falo, já que temos um conjunto de lideranças em que todos são ouvidos em relação a qualquer decisão importante. O partido tem uma democracia interna muito saudável. Uma consulta quase permanente junto a seus principais líderes. E, semanalmente, em relação a todas as questões. O que posso dizer é que o PSD tem um processo de discussão, que iria se iniciar em abril, maio, mas já foi prorrogado para o final do ano, por conta dessa pandemia. Até porque entendo que qualquer partido que queira dar prioridade a essa questão eleitoral, nesse momento gravíssimo que o País vive com a pandemia, vai errar. Então, vamos ter essa discussão mais no final do ano. Mas a prioridade continuará sendo a de ter uma candidatura própria.
Hoje, essa é a intenção do PSD?
Eleição de dois turnos parte do princípio de que a prioridade deva ser sempre a candidatura própria. Aí você pergunta para mim: ‘Vai ter candidato, então?’ Essa é a prioridade. Se vai ter ou não vai ter, o tempo dirá.
Quem será o candidato do partido, se essa ideia vingar?
Temos excelentes nomes. O senador Otto Alencar (BA), o senador Antonio Anastasia (MG), o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, o deputado André de Paula (PE), o deputado Fábio Trad (MS), para ficar nos principais. Temos bons quadros, pessoas muito qualificadas. Pessoas respeitadas e que conhecem a política brasileira, conhecem o Brasil.
Qual será o efeito da pandemia na eleição, especialmente no caso do presidente Bolsonaro, que tem sido muito criticado pela atuação no combate à pandemia?
Olha, o governo tem seus aspectos positivos e negativos. Qualquer governo tem isso. Portanto, a principal questão para a candidatura do presidente Bolsonaro vai ser avaliar o seu legado de realizações. Ele está na metade do mandato e precisará construir esse legado. Será comparado com outros legados, com os seus compromissos. Isso acontece com qualquer candidato que pleiteia a reeleição. As pessoas cobram realizações.
Ele vai ser cobrado pela atuação na pandemia?
Olha, no mundo inteiro a pandemia elevou e enalteceu líderes que conduziram de maneira adequada o governo em relação a ela. E, em alguns casos, defenestrou lideranças que não souberam se conduzir. Hoje, não há cidadão no mundo que não tenha como principal preocupação a pandemia. Por conta da sua saúde, da família, dos amigos, do emprego, da condição econômica. Hoje, se você pegar qualquer cidadão do planeta e oferecer uma vacina ou um automóvel, uma vacina ou até um imóvel, a maioria absoluta vai preferir a vacina. Então, o governante que não souber entender isso, e não souber se conduzir de acordo com essa vontade quase unânime do planeta, vai ter muitas dificuldades.
O governo decidiu substituir o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pelo médico Marcelo Queiroga. Os erros no Ministério vão desgastar ainda mais o governo?
Eu diria que é um erro avaliar o governo na questão da pandemia apenas pelo Ministério da Saúde. É preciso avaliar o governo como um todo. A pandemia não é uma prioridade apenas do Ministério da Saúde. Tem de ser uma prioridade do governo. Acho que a análise e as decisões do governo têm de ser únicas e harmônicas em relação a todos os ministérios. É preciso saber o que fazer em relação ao grande problema do País. Quais medidas se vai tomar? Se (eu) fosse presidente da República, estaria visitando, por exemplo, a Fiocruz semanalmente. Perguntando ‘Como é que está isso?’, ‘Como é que está aquilo?’, checando a produção. Acho que essa condução não pode ser delegada. Hoje, para qualquer brasileiro, quando analisa o governo federal, está olhando a Fiocruz. O que vai acontecer hoje na Fiocruz? O que vai acontecer amanhã? Porque é ela que vai nos entregar as vacinas. Estou falando das (medidas) que estão a cargo do governo brasileiro. Não estou falando das estaduais. Se fosse o presidente, eu teria quase que transferido o meu gabinete, uma vez por semana ou a cada quinzena, para a Fiocruz. Teria uma salinha lá para ver como estão as coisas.