O deputado Duarte Bechir (PSD), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, apresentou mais uma proposta significativa, que vai mudar a qualidade de vida das pessoas que possuem bexiga neurogênica e sofrem com problemas crônicos urinários: a formulação de um Protocolo de Cateterismo Intermitente Limpo, que recomende ao Sistema Único de Saúde (SUS) o fornecimento de cateter hidrofílico.
Usuários de cateter que recentemente participaram de audiência pública da comissão sobre o tema, explicaram que o SUS só libera a sonda rígida, que é mais difícil de manusear e provoca lesões e sofrimento aos pacientes. Além disso, o serviço público só libera kits com sete sondas por mês. A maioria utiliza entre quatro e sete vezes por dia. Mesmo sendo descartável, os profissionais de saúde orientam os pacientes a reutilizarem o cateter, o que aumenta o risco de infecção.
A previsão é de que, em 30 dias, Minas Gerais tenha ao menos o esboço desse protocolo, a ser criado por participantes de um grupo de trabalho que defendem a ideia e que se reuniu, pela primeira vez, na terça-feira (19/6/18), durante reunião ordinária da comissão.
A diretora de Redes Assistenciais da Secretaria de Estado de Saúde, Claudia Carvalho Pequeno, explicou que a utilização da nova sonda depende de aprovação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Segundo ela, desde junho de 2014 existe uma solicitação apresentada por empresa fabricante do cateter hidrofílico no Brasil, que ainda não foi avaliada.
O deputado Duarte, por sua vez, apresentou dois protocolos já firmados pelo Distrito Federal e por Curitiba (PR), onde há oferta da sonda flexível.
Troca reduziria sofrimento e gastos com saúde
Os depoimentos dos usuários de cateter mostraram que a troca da sonda rígida pela flexível, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, pode significar menos gastos com os próprios beneficiários. O fato é que a sonda rígida acaba por gerar úlceras ou problemas, levando à internações ou outras intervenções, algumas vezes até cirúrgicas.
Ao trocar a sonda rígida pela flexível e lubrificada, o atleta Esdras Bastos Vinhal, da equipe Minas Quad Rugby, reduziu a incidência de infecções de oito para uma a duas por ano. “A sonda hidrofílica é estéril e praticamente não temos contato com ela, pois facilmente é introduzida no ureter”, explica. A tradicional precisa ser lubrificada com pomadas e é introduzida aos poucos, forçando o usuário a tocá-la em quase toda a extensão.
Thiago Ribeiro afirmou que o cidadão comum não consegue comprar o cateter hidrofílico em função do preço. Lamenta que apenas pela via judicial o paciente tem conseguido a gratuidade pelo SUS.
O atleta e cadeirante Julcemário Prates comentou que já não consegue mais usar a sonda rígida, depois de desenvolver um calo na uretra e passar por duas dilatações em internações. Atualmente ele frequenta eventos de saúde para ganhar amostras grátis.
Leonardo Eugênio Alves da Silva já chegou a fazer cirurgia para corrigir os danos provocados pelo cateter rígido. Contou que a recuperação da operação é dolorosa e longa e exige, do paciente, investimento financeiro também em medicamentos e até contratação de acompanhantes. Depois de já ter sido internado até em Centro Intensivo de Internação (CTI), ela agora está livre das infecções urinárias.