Belo Horizonte é uma ilha em meio a uma economia brasileira ainda anêmica e em meio à severa crise fiscal que assola Minas já há alguns anos. A afirmação é do prefeito da capital mineira, Alexandre Kalil(PSD), que, em entrevista ao jornal Valor Econômico (veja aqui), explicou esta semana que diferentemente de Minas Gerais, as contas de Belo Horizonte estão mais organizadas. Não há parcelamento no pagamento dos salários dos servidores nem de fornecedores.
Forte candidato à reeleição em 2020, Kalil é o presidente do PSD em Minas Gerais e é o gestor público mais bem cotado na cidade que administra. Pesquisa recente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de BH mostrou que 49% da população avalia sua gestão como positiva, colocando-o em patamar superior ao do governador Romeu Zema (Novo) e do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Cotado também para disputar o cargo de governador do Estado em 2022, Kalil afirmou ao Valor Econômico que não se enquadra na onda de direita e conservadora que levou à eleição de Bolsonaro. A Prefeitura de Belo Horizonte é o primeiro cargo público ocupado por ele, que já foi presidente do clube de futebol Atlético Mineiro e é empresário do setor de construção civil.
Veja a seguir trechos da entrevista de Alexandre Kalil ao Valor:
Sobre eleições municipais: qual marca que senhor acredita que vai deixar de sua gestão, em 2020?
Nenhum escândalo em nenhuma área ou em uma secretaria. Essa marca que eu quero deixar na prefeitura e essa é a marca que posso deixar no período da maior crise da história do Brasil. Consegui manter uma cidade de quase 3 milhões de habitantes na maior crise que o Estado e o país já viveram. Belo Horizonte é uma ilha.
E isso lhe credencia para ser reeleito?
Quem vai me credenciar é o povo. Quero estar credenciado, sou o candidato à reeleição. Agora, o povo vai escolher.
Como será fazer campanha em 2020 depois da ascensão do discurso conservador que ajudou no sucesso eleitoral de Bolsonaro? Seu discurso vai se encaixar com esse momento?
Eu sou neto de imigrante e me chamavam de turquinho no colégio. A única família amiga do meu avô era negra. E eles eram discriminados como nós. Então, não cabe no meu coração ser conservador. A parada gay, que também é realizada em Belo Horizonte, não incomoda ninguém, é uma festa como o Carnaval. Aqui vai ter aqui o campeonato de futebol gay e isso não incomoda ninguém. Assim como o Sermão da Montanha, que é um ato evangélico grande na cidade, não incomoda ninguém. Mas existe radicalismo dos dois lados. Eu proibi a coroação de uma santa transexual na porta da igreja católica da principal avenida da cidade. Isso seria uma agressão à religião e à igreja. Agora são assuntos periféricos, que assumem uma importância que eu não dou. Eu não vou falar sobre evangélico, sobre católicos, sobre gays. Vou falar quanto investimos em saneamento, que não falta remédio nos postos, que abrimos um hospital com quase 600 leitos, que reformamos 80 escolas, que nós aumentamos a quantidade da comida nas escolas. Isso é o que me interessa, essa é a minha plataforma.
O senhor tem ambição de disputar o governo do Estado?
Não, não, não. Eu já falei uma vez que não me interessava ser governador de Minas Gerais porque não tinha no momento capacidade nem experiência para resolver os problemas de Minas Gerais. Você tem que tentar sabendo da responsabilidade que você está assumindo. Eu tenho trabalho para fazer um trabalho que vai ser usado na minha campanha de reeleição para prefeito. Sou candidato à reeleição porque eu acho que podemos continuar fazendo o trabalho no governo sem mentira, sem sacanagem, sem radicalismos. Já pensou eu falar: ‘vou ser governador de Minas’? Pra quê?
Mas depois desses três anos na prefeitura, o senhor não passou a considerar ser governador do Estado?
Olha, eu não falo mentira. Eu acho que eu poderia contribuir. Até acho que poderia estar contribuindo se fosse chamado para ajudar. Mas é claro que tudo tem um momento. Agora, aqui, eu vou pensar na outra cadeira? Não tem lógica. Isso a gente está vendo que não dá certo.
Estados e municípios devem ser incluídos na reforma da Previdência?
Quem vai socorrer os Estados e os municípios que tiverem falência decretada pela previdência, como Minas Gerais? O próprio governo federal. Falar que não quer incluir os Estados e municípios agora é demagogia. Ou inclui agora ou então a conta cairá no colo do governo federal. Isso é óbvio. No caso de Minas, uma reforma previdenciária estadual não passa. Não há a menor hipótese disso acontecer. Não há ambiente político para isso acontecer. Não é hora de brincar. A conta vai chegar. Para Belo Horizonte, não chega agora, mas vai chegar daqui a 10 ou 15 anos.