Citando nomes como os dos senadores Antonio Anastasia (MG) e Otto Alencar (BA) e do governador do Paraná, Ratinho Junior, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, reafirmou nesta terça-feira (17), em entrevista ao jornalista Josias de Souza, do site de notícias UOL, a intenção do partido de lançar candidatura própria a presidente da República em 2022. Para ele, “não há partido que tenha o respeito do eleitor se não deixar claro que o objetivo será sempre apresentar, em todas as eleições, candidaturas majoritárias”.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista (íntegra aqui).
UOL- Quais são os planos do PSD para 2022 a partir do crescimento da legenda na eleição municipal?
Gilberto Kassab – Não há partido que tenha o respeito do eleitor se não deixar claro que o objetivo será sempre apresentar, em todas as eleições, candidaturas majoritárias. Somos o partido que mais lançou candidatos no plano majoritário depois do MDB. Não será diferente em 2022 para governador e presidente da República. Temos que fazer um esforço para ter uma candidatura a presidente. Sempre preservando o objetivo de crescer o partido. Depois da data do Carnaval, analisaremos a candidatura.
Há nomes?
Temos alguns nomes. O senador Antonio Anastasia tem muita credibilidade. Temos o governador Ratinho Júnior. Há também o senador Otto Alencar. Acho que podem ganhar uma eleição, porque o partido tem dimensão para lançar uma candidatura e trabalhar o nome. São pessoas que, caso se elejam presidente, têm experiência para fazer um bom governo. Temos condições de discutir isso.
Essa defesa de candidatura presidencial própria é retórica ou há de fato um plano do partido de lançar um nome?
Nosso objetivo é o de ter uma candidatura. A gente sabe que isso depende de uma série de circunstâncias. Mas temos bons quadros que poderão, sim, ser bons candidatos. Ganhar ou perder é do jogo. Veja o caso do Andrea Matarazzo (candidato a prefeito do PSD em São Paulo). Ele perdeu, mas o partido saiu de cabeça erguida. E ele também. A eventual derrota não fragiliza o partido.
Trabalha com a hipótese de apoiar a reeleição Bolsonaro ou a eleição de alguma das alternativas que frequentam o noticiário? Refiro-me a João Doria, Sergio Moro e Luciano Huck.
Por coerência, tenho que me concentrar no projeto próprio. Não vamos analisar nesse momento nenhum projeto de aliança. Vamos nos concentrar na candidatura própria. Estamos nos esforçando muito.
Acha que o presidente Bolsonaro saiu derrotado do processo eleitoral?
Numa eleição municipal, o eleitor decide seu voto pensando na escola pública que o seu filho frequenta, no centro de saúde em que seu pai ou sua mãe se tratam, na árvore da sua rua. O apoio do presidente nem sempre interfere. Mas é evidente que o presidente Bolsonaro quis participar. Quando isso acontece, se ele dá apoio a um candidato e esse candidato perde, ele perde junto. Onde o presidente deu apoio e o seu candidato perdeu, o presidente também perdeu. Não significa que a derrota se repetirá obrigatoriamente mais à frente. Sempre lembro da minha campanha para prefeito de São Paulo. O então presidente Lula participou ativamente da campanha da Marta Suplicy. Ele vinha quase que toda semana para São Paulo. Perdeu as eleições. Dois anos depois, ele elegeu a Dilma Rousseff presidente. O Geraldo Alckmin não foi nem para o segundo turno quando disputou a prefeitura. Dois anos depois virou governador de São Paulo. Hoje, na eleição municipal, o presidente perdeu. Ponto. Em São Paulo, apoiou o Celso Russomanno, que derreteu. Portanto, o Bolsonaro perdeu.
Identificou nas urnas de 2020 uma mudança no humor do eleitorado?
Essa mudança de humor se reflete nas pesquisas nacionais. Sempre cito as pesquisas feitas pela XP Investimentos. Como a XP disponibiliza muitos recursos e faz duas pesquisas por mês, o número de informações faz com que a margem de erro seja muito baixa. Nessa pesquisa, nota-se um desgaste de quem é governo, pelo menos na cidade de São Paulo —seja governador ou presidente.
Alexandre Kalil, bem avaliado na gestão da pandemia, foi reeleito prefeito de Belo Horizonte no primeiro turno. Acha que o comportamento do presidente da República —ao menosprezar o isolamento social e criticar uma vacina — pode ter influído?
Creio que sim. O presidente foi bem na gestão. Não faltaram recursos para os municípios. Teve prefeitura que nem conseguiu gastar os recursos recebidos. Mas no plano da comunicação e da postura pessoal, eu jamais teria o comportamento do presidente Bolsonaro. Ele transmitiu para o brasileiro uma falta de preocupação com a pandemia. Isso não ajuda. Aconteceu também com o Donald Trump nos Estados Unidos.
O desempenho do PSD fortalece o partido no relacionamento com o governo?
Nossa relação com o governo federal é bastante cuidadosa. Nossos parlamentares têm independência para ter uma relação mais próxima ou mais distante. Entendemos que qualquer governo tem que ter governabilidade. Mas a governabilidade que a gente empresta a esse governo é aquela vinculada a projetos que a gente acredita que seja bom para o país. Deputados e senadores, na sua maioria, têm votado a favor dos projetos do governo.
Afora a presença do deputado Fábio Faria no Ministério das Comunicações, o PSD cogita reivindicar maior presença no governo?
Não. Os parlamentares, alguns deles mais próximos do governo, têm suas indicações. É natural. Na democracia, as eleições existem para que você possa ter pessoas que, durante um período determinado, façam a gestão de um país, do estado, do município. É a coisa mais natural do mundo. Cada parlamentar, aqueles que são mais próximos do governo têm as suas relações, alguns cargos. Mas no plano partidário não há essa participação. No caso do Fábio Faria o próprio presidente fez questão de dizer que era uma escolha pessoal. Valorizamos muito o Fabio, mas sua vinculação com o governo não tem a ver com o partido.
Quer dizer que não há interesse do PSD em aumentar sua presença no governo?
O partido não tem presença. Em relação à bancada, a decisão é dos parlamentares. Não há nenhuma objeção do partido a que um parlamentar, se consultado pelo governo, decida. Os cargos, as necessidades existem em qualquer governo. É natural que consultem aliados, para ter à frente de cargos e funções pessoas que sejam próximas. Mas não temos nenhum objetivo de crescer a participação em termos partidários. Essa ação dos parlamentares é desvinculada do partido.