Apesar de ocupar cargos de liderança do governo no Congresso e se mostrar um dos partidos mais fiéis ao Planalto nas votações, o PSD aumenta cada vez mais o tom das críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O presidente da sigla, Gilberto Kassab, já avalia se o presidente corre risco de ficar de fora do segundo turno nas próximas eleições, e os senadores Omar Aziz e Otto Alencar (integrantes da CPI da Covid) atuam como oposição.
Na semana passada, em visita a cidades do Nordeste, o ex-presidente Lula (PT) se reuniu com deputados do PSD e discutiram as alianças para 2022. Por outro lado, parlamentares do partido se mantêm em cargos-chave da articulação política tanto na Câmara quanto no Senado, como o líder da maioria, deputado federal Diego Andrade (MG), e o vice-líder de governo, senador Carlos Viana (MG).
Segundo levantamento do Radar do Congresso, do site Congresso em Foco, o PSD está entre os partidos que mais votaram seguindo orientações do Planalto desde que começou o governo Bolsonaro. Em 735 votações na Câmara, a sigla apoiou o governo em 92% das vezes. Já no Senado, em 219 projetos votados em plenário, a legenda acompanhou o governo em 90% das ocasiões.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, vê posicionamentos da bancada do partido no Congresso a favor do governo Bolsonaro como normais, mas avalia que nas disputas eleitorais do próximo ano a sigla estará afastada do presidente.
“O partido não é oposição, é independente. O PSD apoiou a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno e, no segundo turno, liberou seus filiados para que cada um escolhesse o candidato que considerasse melhor ou menos pior para o Brasil. Nesses três anos de governo Bolsonaro, mantivemos nossa independência. Isso significa liberdade para os parlamentares estarem mais próximos ou distantes do governo”, explicou Gilberto Kassab.
Nas últimas semanas, Kassab intensificou as articulações para atrair para o PSD o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM). O parlamentar eleito por Minas é considerado pelo ex-prefeito paulista o “nome ideal” para representar uma terceira via na disputa pela Presidência no ano que vem.
“Vamos ter uma candidatura própria e já fizemos o convite para que o Rodrigo Pacheco seja nosso candidato. Ele tem o perfil do candidato que atende o país, que pode representar a união nacional. Na hora certa ele vai analisar esse convite”, aposta Kassab, que se encontrou nesta semana com Pacheco e outros parlamentares do PSD. Procurada para comentar a possível ida para o PSD, a assessoria do presidente do Senado informou que ele não tomou uma decisão.
Questionado sobre a aproximação de parlamentares do PSD com o ex-presidente Lula, Kassab afirmou que existem proximidades locais e históricas de alguns integrantes do partido com o petista, mas que a partir das convenções serão apontados os caminhos e definições para o apoio a Pacheco. Já sobre o presidente Bolsonaro, ele projeta que o presidente sequer estará no segundo turno. “As pesquisas mostram uma fragilidade na avaliação do presidente. Seja no campo eleitoral, seja no campo da gestão. Isso nos faz supor que existe uma grande chance de ele não ir para o segundo turno. Neste momento, minha intuição diz que é provável que tenhamos um segundo turno entre Pacheco e Lula, não entre Bolsonaro e Lula”, apostou.
Esforço para evitar divisão da legenda em Minas Gerais
Considerado peça-chave na disputa nacional, o cenário em Minas Gerais se apresenta como um xadrez complexo para o PSD. Entre os parlamentares mais alinhados com o governo Bolsonaro estão lideranças mineiras, que mantêm proximidade com o Planalto. A sigla pode ter ainda uma disputa interna pela indicação ao governo de Minas entre os pré-candidatos Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte e que durante a pandemia tem feito duras críticas ao governo federal, e Carlos Viana, vice-líder do governo no Senado.
Líder da maioria na Câmara do Deputados (bloco com mais de mais de 200 parlamentares próximos do governo), o deputado federal Diego Andrade minimiza as disputas internas do partido para a corrida eleitoral do ano que vem, mas comemora a fidelidade ao governo nas votações.
“Sempre teve uma parte do partido mais ligada à esquerda e outra parte mais ligada à direita. O PSD é um partido muito eclético. Mas o importante é que nas votações tem ajudado o governo”, avaliou Andrade.
O senador Carlos Viana, vice-líder do governo Bolsonaro no Senado, considera que a posição política de seu partido não impede sua atuação na articulação do Palácio do Planalto.
“A função é acompanhar os projetos de interesse do governo durante as votações. Ser vice-líder não significa que se concorde com todas as proposições e políticas do Executivo, que tem uma independência em relação às ações. Não há nenhum problema em estar em uma legenda que pode ter posição diferente futuramente e continuar nessa função”, avaliou Viana.
O senador disse ainda que, em 2022, a “sigla poderá ser oposição a Bolsonaro em alguns Estados e apoiar o presidente em outros”.
“Vamos ter uma convergência em torno de nomes”
Para o presidente do PSD em Minas, ex-deputado Alexandre Silveira, muitas votações da bancada da sigla vão além das disputas ideológicas e, por isso, a direção da legenda respeita a independência dos seus membros.
“É inegável que o PSD é um partido altamente heterogêneo. Vejo isso com naturalidade. Na questão do voto impresso, por exemplo, não temos uma proximidade ou distanciamento do governo, foi uma questão de cunho pessoal. Temos que separar posição de partido e de bancada: o Kassab tem demarcando uma posição clara há meses”, avalia.
Silveira adota o mesmo tom de Kassab sobre o lançamento de dois políticos do partido para o governo de Minas – Alexandre Kalil e Carlos Viana. “É natural que tenhamos quadros à altura para representar várias posições do eleitorado, não vejo possibilidade de um racha. Tem partidos que precisam ficar procurando quadros, então é muito positivo termos bons nomes”, explica.
Ele descarta a possibilidade de uma prévia na legenda: “Acredito que, pelo perfil do PSD, vamos ter uma convergência em torno de nomes para o Senado e para o governo sem disputa interna”, completa.
O próprio Alexandre Silveira, que hoje ocupa um cargo na diretoria de Assuntos Técnicos e Jurídicos do Senado, é cotado para concorrer a uma cadeira na Casa, mas para isso se abriria uma nova disputa interna, uma vez que o senador Antonio Anastasia, também do PSD, já disse que vai tentar a reeleição. Em 2022, estará em disputa uma vaga no Senado.
“Ainda não tivemos tempo para estudar o cenário do ano que vem, são tantas as demandas. Já recebi 712 prefeitos mineiros aqui, no Senado, são muitas demandas para resolvermos”, diz Silveira.
Fonte: O Tempo